quarta-feira, 27 de maio de 2009

Famílias vivem em meio a destroços de favela na Zona Sul de São Paulo

Famílias vivem em meio a destroços de favela na Zona Sul de São Paulo.

Prefeitura diz que 43 famílias ainda moram no Jardim Edite. Líder comunitário conta que saída deveria ter ocorrido em feveiro.

Famílias anida vivem entre destroços de favela na Zona Sul de São Paulo (Foto: Patrícia Araújo/G1)

Quem passava, na manhã desta terça-feira (19), próximo ao local onde antes existia a Favela Jardim Edite, na esquina da Avenida Jornalista Roberto Marinho com a Engenheiro Luiz Carlos Berrini, na Zona Sul de São Paulo, avistava destroços por todos os lados. Também via trabalhadores que, com a ajuda de máquinas como escavadeiras, derrubavam e removiam as paredes que continuam em pé.

Veja fotos do que resta no local. http://g1.globo.com/Noticias/0,,GF71156-5605,00.html

Há cerca de três meses, de acordo com o líder da comunidade da favela, Gerôncio Henrique Neto, os barracos e algumas casas do local começaram a ser derrubados pela prefeitura. Desde 2007, a administração municipal tenta remover os moradores. Após vários adiamentos, envolvendo decições judiciais, a demolição foi iniciada neste ano.


Embora os trabalhos de demolição já estejam bastante avançados, a Secretaria Municipal de Habitação diz que até terça-feira (19) viviam 43 famílias no local. A prefeitura diz aguardar que os antigos moradores informem o endereço de casas que pretendem alugar para que seja feita a vistoria e mudança para o local.

“O prazo dado para as famílias desocuparem a área era 8 de fevereiro, mas, infelizmente, muita gente não conseguiu alugar outras casas e continuou por lá”, afirmou o líder comunitário. Segundo ele, pelo acordo feito com a prefeitura, os moradores cadastrados têm direito a alugar uma casa no valor mensal de até R$ 500. Eles próprios, porém, precisam encontrar o imóvel para alugar e, após achá-lo, devem submetê-lo à aprovação da prefeitura para só então receber a bolsa aluguel.

Henrique Neto afirma que a bolsa será paga por até dois anos, período em que a prefeitura deverá ter construído, no mesmo local, apartamentos e as famílias poderão retornar.

Perigo e sujeira

Entre os barracos que ainda restaram, além da sujeira acumulada, o risco de desabamentos é iminente, segundo os moradores. “Está caindo pedaço de parede para todo lado. Fico em casa escutando o dia todo barulho de parede, teto, desabando”, conta o desempregado Anildo Lourenço de Souza, de 39 anos. Na sexta-feira (15), um homem de 55 anos morreu no local após um muro desabar sobre ele. Segundo o Corpo de Bombeiros, o acidente ocorreu às 15h30 e a vítima chegou a ser encaminhada pelo Samu para o PS Santo Amaro. A prefeitura informou que ele estava embriagado e tentou retirar uma calha do seu imóvel. Segundo a secretaria, não estava ocorrendo trabalho de demolição no local, já que o morador não tinha informado um local para onde pretendia se mudar.“Ficou todo mundo assustado. Mas fazer o quê? Eu não tenho para onde ir”, falava Souza, que mora no local há 19 anos e trabalhava em um barraco ao lado da sua casa. “Há 40 dias, tiraram tudo de lá [do barraco onde ficava o bar em que ele trabalhava] e eu estou desempregado. Agora não tenho para onde ir.” Ele disse que vai tentar ficar uns meses na casa da namorada, enquanto procura um lugar para viver.

E em outro imóvel na favela, o ajudante de carregamento Fernando da Silva, de 45 anos, arrumava os poucos pertences que restavam na residência que, de acordo com ele, pertencia a sua família há 60 anos. “Estamos saindo daqui. Alugamos uma casa no Jardim Ângela [Zona Sul]”. Segundo ele, a família passou meses morando entre os entulhos, vendo casas atrás da sua sendo derrubadas. “Fazer o quê? Tivemos fé em Deus e, graças a Ele, não aconteceu nada com a gente.”

Invasão

Morando com a filha de 6 meses em um dos barracos que ainda estão de pé no local, a auxiliar administrativa Elaine Cristina da Silva, de 29 anos, conta que, além dos moradores cadastrados que ainda não conseguiram alugar uma casa, existem outras pessoas, que não possuem cadastro, que estão vivendo nos escombros da favela. “Eles invadem a casa de quem já saiu. Quando a casa é derrubada, invadem outra e assim vai”, conta.

Fonte: Patrícia Araújo Do G1, em São Paulo

Link: http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL1159526-5605,00-FAMILIAS+VIVEM+EM+MEIO+A+DESTROCOS+DE+FAVELA+NA+ZONA+SUL+DE+SAO+PAULO.html

Vizinhos de altos interesses

Sexta-feira, 27 de Março de 2009

Vizinhos de altos interesses

O novo cartão-postal de São Paulo esconde ao seu lado uma história de resistência. A ponte estaiada Jornalista Octávio Frias de Oliveira, localizada em uma região muito valorizada na cidade, tem como vizinha a favela do Jardim Edite. O que se vê em volta são inúmeras contruções, (eu contei quatro em duas quadras), além de milionárias estruturas arquitetônicas, como a Rede Globo, hotéis de luxo, e outras grandes empresas. Em meio a região emergente, a sub-prefeitura de Pinheiros começou a desocupar a ponta da favela, na esquina da Rua Araçaiba com a Avenida Jornalista Roberto Marinho. O terreno ocupado pela favela Jardim Edite faz parte da Operação Urbana Água Espraiada, e está em área de Zona Especial de Interesse Social (ZEIS 1), o que obriga a Prefeitura a criar projetos de habitação no local ou na região para acomodar os moradores. Não sei se essa é a intenção do poder público.

O Plano Diretor Estratégico de São Paulo de 2002, determinou a região em uma ZEIS. Nesses locais, o governo é responsável por organizar a demanda local junto com os moradores, mobilizar um financiamento e promover melhorias urbanísticas na favela. O Plano Diretor garante que a finalidade do terreno deve ser de 40% para habitação, 40% para o comércio e 20% de uso livre. As famílias só poderiam ser removidas para outro local se permanecerem no perímetro do bairro. Durante o debate no segundo turno entre Kassab e Marta, o atual prefeito afirmou que seriam construídos prédios no lugar da favela para acolher os moradores.Passei a acreditar na promessa de Kassab, e observei no começo desta semana o início da remoção dos moradores. Com o trator passando por cima dos barracos, as pessoas assistiam do outro lado da rua a demolição de seus sonhos. Alguns começam a olhar com esperança a construção de moradias decentes, mas a permanência na área está em debate com a prospota enviada pela Prefeitura á Câmara dos Vereadores que muda uma regra importante das Operações urbanas.

As mudanças contidas na revisão do Plano Diretor, dá a Prefeitura o direito de tirar moradores de qualquer terreno desapropriado e instala-los em conjuntos habitacionais a serem erguidos na periferia. Já ficou clara que a intenção de Kassab era mandar para bem longe as famílias da favela jardim Edite. Em 2007, a Prefeitura ofertou duas propostas: a primeira "presenteia" a família com cheques-despejo cujos valores variavam de R$ 5 mil a R$ 8 mil. A segunda ofereceu moradia em outros locais, como o conjunto habitacional da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), no Campo Limpo (extremo da Zona Sul), e no conjunto José Bonifácio (extremo da Zona Leste), da Companhia Metropolitana de Habitação(Cohab)

De acordo com a Associação de Moradores do Jardim Edite, cerca de 396 famílias saíram da favela após as ofertas da prefeitura. A maior parte aceitou os cheque-despejos; aproximadamente 77 famílias optaram pelos conjuntos habitacionais. Hoje, 420 continuam no local, com apoio da Defensoria Pública do Estado de São Paulo.A comunidade do Jardim Edite começou a se instalar no local na década de 70 e metade das famílias residem na área há mais de 10 anos. Antes de qualquer discussão sobre a área, tem de haver o respeito as famílias. A maioria da população da favela é gente de bem, trabalhadora, e que se mata de sol-a-sol para garantir seu sustento. É necessário somente um pouco de bom-senso para barrar a revisão no Plano Diretor, que além de prejudicar os moradores de favelas, permite as construtoras e investidores erguerem prédios de altura superior aos limites de determinados bairros.

Claro que a Prefeitura não ia ficar de bobeira. Ela recebera dinheiro das empresas para fincanciar obras públicas. É um grande jogo de interesses que coloca mais uma vez o lado mais fraco em desvantagem. Estou acompanhando o que vai acontecer. Um dia volto a falar novamente deste assunto que tira o sono de muita gente.


Fotos de Fabrício Amorim

Fontes:Estado de São Paulo / G1 / Terra

Veja o link: http://farofaapimentada.blogspot.com/2009/03/vizinhos-de-altos-interesses.html

O direito à cidade

Quarta-Feira, 17 de Setembro de 2008 Versão Impressa



O direito à cidade

Prefeitura de São Paulo firmou acordo com a Defensoria Pública do Estado para transformar em conjunto habitacional a Favela do Jardim Edite, na Avenida Jornalista Roberto Marinho, no Brooklin. A manutenção das famílias no terreno de 20 mil metros - propriedade do Departamento Estadual de Estradas de Rodagem (DER), da Polícia Militar e da Fazenda do Estado - foi determinada pela Justiça em abril, em decisão de ação civil pública movida pela Defensoria e pela associação de moradores da favela. O projeto apresentado pela administração municipal prevê a construção de áreas de lazer, creches e unidades habitacionais, que serão vendidas aos interessados em permanecer no local com financiamento público para pessoas de baixa renda. Na época da disputa judicial, das 815 famílias cadastradas na favela, 230 declararam preferir verba indenizatória de R$ 5 mil; 75 preferiram se mudar para um conjunto da CDHU em Campo Limpo; e outras 166 preferiram receber R$ 8 mil para adquirir outro imóvel em área pública. A Defensoria, no entanto, resolveu impedir as transferências sob o argumento da "efetivação do direito à cidade". Para os defensores públicos, a expulsão da população para a periferia exclui quem precisa de infra-estrutura, agrava o trânsito, ao obrigar que essa população realize grandes deslocamentos entre a casa e o emprego, e ameaça com novas invasões as áreas de preservação de mananciais.É preciso considerar, no entanto, que praticamente metade das famílias residentes na Favela do Jardim Edite já tinha feito sua opção de sair dali. São pessoas que não têm emprego nem qualquer outro vínculo com o lugar. Com a redução da área ocupada, seria possível diminuir o impacto causado pela presença de um conjunto habitacional para a população carente numa área de grande valorização, cenário da operação urbana mais bem-sucedida de São Paulo. A Operação Urbana Água Espraiada foi estabelecida pela Lei 13.260, de 2001, e prevê a reurbanização de 3,3 milhões de metros quadrados nas redondezas da Avenida Jornalista Roberto Marinho. O investimento é assegurado pela venda de Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs), títulos que rendem recursos antecipados ao governo municipal e podem ser trocados por benefícios legais. A empresa que adquire os títulos pode construir além dos limites permitidos pelo zoneamento. Desde 2004, os leilões de 449,3 mil Cepacs já renderam à Prefeitura R$ 172,8 milhões. A emissão total autorizada pela Comissão de Valores Mobiliários é de 3,7 milhões de títulos, totalizando R$ 1,1 bilhão. Com esses recursos, a Prefeitura pretende prolongar a Avenida Jornalista Roberto Marinho até a Avenida Pedro Bueno e ligar esse eixo, por túnel, à Rodovia dos Imigrantes. As obras contribuirão para a melhoria do trânsito de São Paulo, pois desafogarão a sempre congestionada Avenida dos Bandeirantes. No plano da Operação Urbana Água Espraiada reúnem-se também projetos de instalação de linha de veículos leves sobre trilhos, parque com 40 mil metros quadrados de área verde e pólos de moradia, emprego, lazer e serviços públicos, para evitar o deslocamento dos moradores. Muitos empreendedores resistem a investir na região porque temem a desvalorização que o Jardim Edite traz ao local. Além de uma parcela de trabalhadores da área, a favela abriga gangues cada vez mais numerosas, que agem nas redondezas cometendo seqüestros relâmpagos, assaltos e furtos de notebooks. Nos últimos anos, o tráfico na favela transformou a própria avenida em ponto-de-venda de drogas a céu aberto, agindo com audácia, chegando, até, a obrigar os ônibus a mudar de itinerário para não atrapalhar a atividade dos traficantes.Portanto, o direito à cidade deve ser defendido. Mas é preciso preservar o direito da maioria, analisando com isenção e precisão o impacto que cada medida traz ao ordenamento da cidade. Tivesse sido reduzida a ocupação da favela, o pólo de habitações populares seria realizado, mas em dimensões capazes de garantir o controle da área, a segurança pública e os bons resultados da operação urbana.

Fonte: estadão.com.br
Link: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20080917/not_imp243087,0.php